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domingo, 22 de novembro de 2009

Capela da Ajuda já deu sinal...





Fotos: Marilene Gonçalves

Estranhos

Tão estranho sentimento
Que não se deicha revelar
Ora dor, ora contentamento
Ás vezes partida quando desejo ficar
É tua estranha presença, é teu fascinante olhar
Saudade que aos poucos invade
Vazio, mesmo ao lado teu
É um beijo de adeus, um abraço de regresso
É protesto, é lágrima, é paixão, exaustão!
É sonhos, é pesadelo, é tua imagem no espelho
É um permanecer sem ficar
É uma falta de jeito, um encaixe perfeito
É frio e calor no olhar!
É mágoa escondida no canto dos olhos
É pele arrepiada de desejo
É calor e fogo nos teus beijos
É paz e tristeza no nosso repousar
É uma confusão de sentimentos
Tantas dúvidas enfim
Todas as vezes que nossos corpos se tocam
Você deixa marcas em mim!

Teus Olhos

Estes olhos teus
Porque fitam os meus?
Tão sinceramente enganadores?
E este toque teu
Vai descobrindo o corpo meu
Tão tentadoras estas tuas mãos!
Ah! Solidão
Que me faz enxergar em tudo a paixão
E vai iludindo o peito meu!
E me envolvendo em sonhos
Que eu jamais poderei sonhar...
Estes olhos teus, Ah! fitam os meus
Tão sinceramente enganadores!
E se nada me restar
Pelo menos há de ficar
Estes olhos teus, tão tentadores...
Mari Gonçalves

E me inspiras!

Tu és minha inspiração!
Difícil dizer isso assim
Sem chocar você!
Difícil te fazer compreender
Que às vezes é puro este meu querer
Noutras, intenso e ardente desejar
Mas se o tenho, é por gostar
Tão intensamente de tí
E me inspiras!
Porque és poesia, que desvela-me inteira
Porque és refúgio, minha saudade primeira
Porque és homem-menino, de olhar ligeiro
E me inspiras!
Porque tens doçura e ardor
Porque és distante, mas tens amor
Porque faz falta até quando não te vais
Porque és amigo
E algo mais...

Reencontro

Fico a pensar...
Quantos mundos haverá além do meu
Quero-o todos, sonhar!
Velejar noutros desejos
Superar estes meus medos, arriscar!
Mas parece-me estranho...
Pois quero conhecer outros mundos
Mas quero voce ainda em minha história.
Quanto tempo levará?
Para que você já não me faça tremer?
Para que teu sorriso já não me encante
e teu toque já não me faça te querer!
É difícil, parece até impossível,
Tão estranho não te ver
Mas tudo vai chegar
E quando eu te encontrar
Não sei o que vai acontecer...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Seus passos lentos denunciavam que o tempo marcara seu corpo, tão tirano este tempo que a ninguém perdoa. Sempre com os mesmos trajes, o mesmo olhar pensativo, a paz de espírito, o mesmo cumprimentar – um leve aceno com as mãos embrutecidas pelo trabalho pesado. Todos os dias ele se dirigia à sua pequena plantação, enxada na mão, corpo curvado pelo tempo e pelo cansaço, roupas surradas, às vezes remendadas com tecidos coloridos, quem as teria remendado? Todos os dias ele passava, seu olhar que não apresentava brilho, mas também não estava de todo ofuscado. Era um olhar vazio, que parecia espelho de um passado remoto, mas ainda agonizante em qualquer canto da memória. Um olhar inexpressivo, mas que ameaçava irromper num brilho qualquer, num pequeno prazer. Será que ele tinha sonhos? Quando se deitava na cama, o que pensava? Talvez dormisse de imediato e seu pensamento ficasse vazio, como uma sala sem paredes, sem presença física, sem vida. E fitava-o entre penalizada e curiosa. Como eu queria adentrar sua mente, saber o que se passava nela. Entender o que sentia um corpo marcado pelo tempo e pelos insucessos que a vida lhe proporcionou. Como eu queria saber o que ele sentia quando lembrava-se dos filhos distantes, da juventude perdida, da esposa falecida, do fim que se aproximava lentamente de seu cansado e velho corpo. E quando, no fim da tarde, retornava cansado do trabalho, eu podia ver o suor que escorria de seu rosto enrugado. Suas mãos trêmulas que se dividia entre enxugar o suor e apoiar uma velha sacola. E ia descendo vagarosamente a ladeira, sua figura cada vez mais distante, transformando-se num pontinho pequeno, até desaparecer por completo na esquina. Tantas vezes ficava na porta, sentada no assoalho só para vê-lo passar, e me contentava com seu aceno, um sorriso desdentado, mas tão sincero. E vigiava o relógio, preocupada em não perder sua partida. Quando o sol se punha, lá vinha ele, lento, pesaroso com fadiga do dia, ai descendo lentamente a ladeira. Sua figura amiudando-se no caminho, cada vez mais longe, cada vez mais lento, amiudando-se, findando-se a sua imagem, até o dia em que findou-se completamente.
Mari Gonçalves

Andarilho eu

Meus caminhos. Tortuosos caminhos, cansados pés.
Algumas vezes se perdem em emboscadas da vida.
Noutras encontram ruas sem saída, ah!
E eu sempre à procura de mim, ou de ti
Nada me fere mais que não poder caminhar
E me deixar ficar em um abrigo qualquer
Sou andarilho, sigo um rumo que não sei qual é
Mas sigo a pé
Porque à pé, eu sinto as flores que nascem na estrada
Eu vejo a criança que me olha entre curiosa e desconfiada
Eu vejo a vida passar por mim e eu por ela, sim!
Às vezes me incomoda esta sina
Pois meus pés me reclamam um constante caminhar
Como se a poesia que se espalha no caminho
Fosse deixando minha essência pelo ar
E morreria se me permitisse ficar
Meus caminhos, tortuosos caminhos
Não sei viver sem caminhar

Foto e texto: Marilene Gonçalves


Em tuas mãos


Dá-me a forma que pensas
Ou me abandonas num canto qualquer
Mas sei que tu me queres, então contorna-me
E tuas mãos alisando minha matéria
Ah! Vai torneando minha forma, sim
Prazer de me fazer surgir em teus dedos
Toca esta sinfonia que é criar-me
Inventa-me ao teu bel-prazer
Eu me deixo escorregar e tu podes me formar
Em tuas mãos tens o poder de me criar
E eu vou cedendo às tuas investidas
Preguiçoso, obedeço tuas mãos experientes
E este teu toque de arte e calor
Tuas mãos em ritmos frenéticos de amor
Faz-me contorcer-me e rodopiar
E no final, cansado eu me rendo, sou vaso novo
Sou tua criação, Ah! Artista, as tuas mãos!


Autora Mari Gonçalves

sábado, 7 de novembro de 2009

Falando sério - Eu, Jornalista

Às vezes me pergunto o que eu, Marilene, estou fazendo em um curso de jornalismo. Quando criança tinhas vários sonhos, ser executiva, atriz, poeta, escritora, pintora e até marinheira. Mas jornalista nunca. Engraçado o destino. Porque sempre gostei de coisas que me dão plena liberdade de criação, que me permita estar em contato com o ser humano. E, de repente, me vejo em uma profissão que exige que eu documente a vida dessas gentes e me confronte com elas diariamente. De toda forma, estou gostando do curso, gosto das disussões, mas sempre me pergunto se é isto que eu realmente quero para minha vida. Entendo que na sociedade capitalista e excludente em que vivemos, onde frequentemente os valores são distorcidos para favorecer pessoas em específico, ser jornalista é um desafio. Talvez até nem seja, para quem não se incomoda em vender seus conceitos por mesquinharias e deixar-se envolver por falácias bem ensaiadas. Mas para mim, que acredito no valor do ser humano, que creio que o amor pelo próximo é mais importante do que status e dinheiro, é desafiador sim. A cada dia entendo a realidade do mundo da comunicação. E ela não é bonita não... É uma realidade marcada por distorções, por mentiras bem contadas, por um discurso muito bonito de contribuir para a sociedade, mas que está fundamentado no controle social, na legitimação de um sistema que deturpa a realidade a desabitua os indivíduos a exercer sua subjetividade. E isto, eu nunca pretendo ser, nem defender. Mas não vou generalizar, tem muito jornalista bom e sério por aí. Me arrisco até a dizer que eles (ou nós), estão em um número considerável, quem sabe até suficiente para fazer uma comunicação diferente. Mas estes, infelismente, não estão no controle, quase sempre estão controlados. Mediante estas constatações, tenho duas opções: Escolher uma área que eu não precise estar subjugada a este controle - se é que isso ainda é possível, ou encarar este desafio e ser sal, fazer a diferença, engrossar a fila das minorias que crêem num jornalismo sério e comprometido com a mensagem no canudinho - que já nem vale muita coisa. São dois caminhos, qual vou escolher, não sei sinceramente. Mas sei que seguirei o caminho certo, até penso que ele já está marcado. E está à espera dos meus pés, e que venha o mundo. Seja o que Deus quiser.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Amor e Medo
Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, Oh! Bela
Contigo dizes, suspirando amores:
"Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
Como te enganas! meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela - eu moço tens amor, eu - medo...
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes...
Casimiro de Abreu

LUA ADVERSA

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso.
E roda a melancolia seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém (tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Cecília Meireles

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçurados que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora.
Vinicius de Moraes
Oh! Cachoeira!
Mãe do meu Brasil.
Teus filhos herdaram a história
De uma guerra travada
sob a proteção de um rio!
Seus traços africanos
quando nem éramos baianos
já nos fazia brasileiros!
E nesta terra abençoada
houve sangue nas calçadas
houve mãe desesperada
teve choro e emboscada
a canhoeira afundada
denunciava em retirada
os heróis da Cachoeira
cosntruíram este Brasil!
O dia estava quente. Eu não sabia distinguir quem estava ao meu redor, só sei que eram amigos. Pessoas com quem eu convivia há muito. Percebi a aproximação sutil e a confusão armada em torno do fogão. Fogo! Fogo! Ou era pura ilusão? Labaredas subiam ardentes, eu tentava salvar meus pertences, mas era fogo! E contra o fogo não há argumentos. Só há água ou fuga. Fugir significa deixar para trás objetos queridos, pessoas queridas, lugares especiais. Fugir significa abrir mão de algo. Abandonar projetos inacabados, partir com a certeza de que o que ficou para trás se converterá em cinzas. Fugir dói demais. Mas fugimos com freqüência. Fugimos de nossos problemas, como se eles não nos esperassem quando retornamos. Fugimos de nosso silêncio, como se refletir fosse assinar um atestado de solidão. A fuga é inerente ao ser humano, pois viver é nada mais do que um constante fugir da morte. Ou a gente foge ou a gente fica e apaga o fogo. Tem gente que prefere ficar e arder nele. E depois recolhe as cinzas que as chamas vão deixando. Escolhi a água e o fogo ia cedendo às minhas investidas arriscadas. De repente ele cessou, recolheu-se com a mesma força que principiou, deixou-se adormecer enquanto eu observava a herança de sua força imensurável. Às vezes o fogo consome de tal forma nossa vida, que o renascimento é desnecessário, pra não dizer ineficaz. Aos poucos as pessoas retornaram, contabilizando assustadas a fúria do fogo que se alastrou em nossas vidas. Eu fitei o vazio do jardim, pois aquelas pessoas me eram estranhas e dançávamos num corredor, ritmados por uma música imaginária. O perigo se aproximava no céu, eram flechas em números incontáveis, avançavam ligeiras, sedentas de atingir a Terra e arrancar o sopro da vida em qualquer um que o possuísse. Que seria de nós, pobres mortais? A música continuava, ou eu a imaginava? O passo estava engraçado, apesar de desajeitado, ele sorria pra mim, éramos amigos naquele momento, eu não via o perigo, mas o pressentia no ar. Estavam quase atingindo a Terra, mas centenas e milhares de anjos voavam ao encontro delas, morriam, acinzentavam-se e se dissipavam no ar, mas impediam o perigo de chegar ate a nós, inocentes mortais que dançam a valsa da vida, mesmo quando o passo é errante e indeciso. No céu a batalha estava travada, os anjos iam desaparecendo, uma a um, mas protegiam a vida entregando a deles. Ah! Batalhas insanas estas que travavam nos céu. Entregavam suas vidas por amor de desconhecidos seres e sabiam que não valeria apena, pois a vida não passa de uma eterna batalha onde não há vencedores, apenas o destino do confronto. Somos assim, anjos que lutam contra um mal que nem se quer existe. Mas lutar é condição para ganhar os céus, para fazer da vida uma inglória busca de algo que nem se sabe o que é. Alguns lutam contra si próprios, como se o inimigo fosse a própria consciência que lhe acusa os erros. E passam a vida inteira entorpecendo suas mentes de alucinógenos que permitem a fuga da realidade. Outros ocupam seus dias com afazeres mil, mascaram seus corpos com objetos e corretivos que lhe impõem uma marca que permite a representação de papéis diversos, e a verdadeira essência vão se atrofiando, sem espaço para existir nestes corpos transformados. Há aqueles que apenas se deixam ficar, pois fugir ou lutar representa a mesma perda de tempo. Então se entregam aos momentos prazerosos e desfrutam da leveza da vida, como se esta não fosse ter o mesmo destino de todas as outras, que ninguém sabe qual é. A música parou, meu jardim estava repleto de estranhos, eu estava sendo convocada para lutar. E cadê minhas vestes? Que roupa de heroína é esta que nunca vi no meu guarda-roupa? Esta roupa revela quem sou, meu corpo verdadeiro que comumente escondo com os disfarces da vaidade! Mas expuseram diante de todos e sou outra pessoa, não sei se má, não sei se boa. Eles são muitos e eu tenho que segui-los. É preciso vencer o perigo das flechas lá no céu, é preciso desviar seus caminhos, ah é preciso não deixá-los sozinhos, sozinhos eles não podem lutar. Eu não me conheço, não me sabia uma heroína, o que eu faço? Que poder tenho eu? Não sei qual minha força, não entendo onde está o inimigo, o céu já não apresenta perigo, morreram os anjos, me denunciaram aos meus amigos, neste momento eu acordei. Ah, estes sonhos loucos que eu tenho! Bobagem, fui tomar um banho frio.