Visualizações de página do mês passado

domingo, 23 de maio de 2010

Adeus, Damário!




E sua voz calou-se


e calaram-se as fotos, espatandas, na parede


Calou-se o grito de seu peito que não sabia guardar versos


calou-se a voz do poeta inquieto


Mas continua viva a sua poesia


porque morre o homem e fica sua trajetória


E tudo foi silencio ao despertar da aurora


Seu corpo já não tinha mais resistência


Findou-se o sopro, mas continua seu rosto


a rondar a imaginação dos que o viram


dos que compartilharam de sua inconfundível arte


Nossa última homenagem


adeus sincero e cheio de saudades


de alguém que parte, mas teima em ficar


e se espalha pelas ruelas frias


E o rio Paraguassu, enegrecido, rumina e diz:


Adeus poeta! Deixou-nos sua magia


Pois morre o homem, mas fica sua eterna poesia!


Adeus Damário, adeus poeta!




Autora Marilene Gonçalves

**** Conheci Damário da Cruz em um fim de tarde, quando passava pela frente do Pouso da Palavra com uma amiga e entrei por curiosidade, para conhecer o espaço. O poeta estava diante de mim e naquele momento eu não sabia o respaldo internacional que tinha o seu nome. Mas conversamos sobre fotografia e poesia e ela explicava-nos o porquê das fotos que ia nos mostrando. E falava-nos de literatura, de poesia, de viagens e culturas. Uma conversa tranquila, em um final de tarde qualquer. E suas palavras ficaram-me um tempo na memória, eu havia me encantado com sua fotografia cotidiana e cheia de poesia. Quantas vezes o vi no Restaurante onde trabalho, almoçando sozinho, as vezes calado o moribumdo, noutras conversante, até sorridente. Algumas vezes conversou comigo no balcão, onde eu cobrava por seu almoço, e falava-me dos lugares onde andava, das pessoas que conheceu e que influenciaram sua arte. A simplicidade destes momentos não me despertavam a grandeza de sua personalidade, pois nestes momentos eu e Damário éramos apenas pessoas que gostavam das mesmas coisas: fotografia e poesia, e nada mais que isso. Muitos gostariam de ter tido este privilégio, de conversar distraidamente com o poeta, talvez até tivessem aproveitado a oportunidade bem mais do que eu. Entretanto Damário era tão simples, que este momento não poderia ter sido de outra forma. E eu não desejo que tivesse sido diferente. Pois a arte de Damário ficou em mim, de tal modo que não preciso de mais nada para admira-la, somente da certeza que esta nossa terra perdeu um ilustre poeta, que arriscava-se a dizer aquilo que sua alma gritava.