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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Bobagens



Com uma poesia breve eu falo de mim

Descanso olhando as estrelas

Faço frases sem sentido pra você

Tudo é beleza recriada em mim

Tudo é paz na serenidade do azul

Tudo é tão possível

Na minha poesia

...

Marionetes e roedores...




Guardo em mim o desejo de ser cada vez mais madura, cada vez mais honesta, cada vez mais sensata e sincera, cada vez mais amiga, mais carinhosa, mais crente... cada vez mais! Não desejo, entretanto, cultivar em mim sentimentos que me aviltam, como rancor, ressentimentos, desilusões, inveja, mentiras, medo, insegurança, etc. O fato é que o dia-a-dia da vida moderna nos confronta com uma série de incertezas, nos faz inseguros, apressados, competitivos, desconfiados, estressados. É complicado manter uma posição equilibrada diante de tantas informações que chegam de todos os lados, de várias origens, de difentes motivações. Me parece cada vez mais difícil assumir uma personalidade em meio a tantas "tendências" que nos exigem um acompanhamento quase servil.



Sempre quando penso sobre essa realidade, imagino aqueles bonecos marionetes que, por mais desejos e sonhos que cultivem, estão sempre à mercê de linhas invisíveis, que lhes molda os atos. Assim também me sinto às vezes, perdida em passos que dei por motivações alheias ao meu desejo, oprimida por um sistema que me obriga a posições que não julgo necessárias à minha existência. Um certo "filósofo" conteporâneo disse: "minha piscina está cheia de ratos, minhas idéias não correspondem aos fatos". Ele, na ousadia e vigor da juventude, foi capaz de denunciar a opressão psicológica que o homem moderno sofre, tendo que se enquandrar o tempo todo em uma padrão comportamental, ideólogico, filosófico, religioso, artístisco, sei lá o quê mais! O certo é que eu não sou eu mesma, já não me caibo na infinita necessidade de ser aquelas outras que "eles" me impõem.



Minha piscina está cheia de ratos, porque penso diferente, porque não gosto de saia balonê nem calça saruel. Porque acho legal ir pra festa e voltar sem ter bebido ou fumado nada e ainda assim ter momentos com alta concentração de serotonina (hormônio responsável pelo bem estar e pelo prazer). Minha piscina está cheia de ratos, porque ainda acho importante ligar para minha mãe e dizer que já cheguei no destino anunciado, dizer aos meus amigos com frequência que eles são especiais, que são caros demais para mim, seja cara-a-cara, seja via scraps, msn, torpedos, twitter, face e outras possibilidades mais.



Eu não quero fazer parte dessa cultura do efêmero, que acha um mico conservar valores familiares, que acha demodê evitar desagradar os pais, ser responsável, fiel, leal! Eu não quero ser mais uma pessoa incapaz de dizer "estou sofrendo", "estou frágil hoje", "eu realmente estou arrependida", "eu penso diferente da maioria"... Falta coragem a uma geração que não conheceu a cautela para dizer te amo com a profundidade de um amor que transcende um corpo bonito, falta uma alma capaz de admirar a outra, mesmo que as duas jamais se enxerguem. Falta aquela paixão que faz tremer, desejar, possuir, mas que depois se metamorfoseia (nem sei se existe essa palavra) em algo mais bonito, mais sereno, mais ágape.



Sou uma reunião de muitas coisas que, no fim, são rótulos, tendências e comportamentos inseridos nos meu ser por pessoas que nunca dei bom dia. Tenho uma piscina entupida de ratos, pois as minhas idéias não correspondem ao que me ordenam todo o tempo, tenho um desejo extremamente paradoxal de ser diferente, de ser o que minha alma grita, de ser aquela que também está no teatro, mas aquela assiste e não aquela encena com fios invisíveis presos ao corpo.



Às vezes sinto medo de mim. Não que me considere um perigo aos alheios, mas, com medo, me digo o tempo todo: "cuidado para não descobrir o óbvio. Cuidado para não enxergar todos os 'nossos' defeitos, senão você deixa de crer que existe mesmo o homem".

Ah! se pelo menos houvesse mais gente interessada em conter os roedores...

Autora: Marilene Gonçalves

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

No primeiro dia




Meus amores, todos equivocados

Seguindo uma lógica imaginária

De detalhes de estórias nunca vividas

Me sinto em um quarto escuro

Nesta ausência de tudo, mudez absoluta

Apenas lembranças de um tempo quase feliz

Tantas pessoas neste mundo

E nenhuma cabe em mim, em minha solidão

Na paisagem desértica de meu coração

Tantas coisas ainda por dizer

Mas meus amores se calaram

Emudeceram a voz de uma razão imprópria

E eu - tão perdida - cada vez mais menina

Me sinto uma iniciante no primeiro dia

do resto de minha vida



Autora: Mari Gonçalves


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sociedade artificial

Hoje, quando abri meu e-mail, li uma notícia que me fez vacilar: "Pequeno robô da Fujitsu aprende a limpar a louça" (http://br.msn.com/?ocid=iehp). Fiquei me perguntando se alguém já parou para pensar em toda a metamorfose que se esconde nesta simples frase "Aprende a limpar a louça". Aprender supõe pensamento, pensamento supõe existência, que supõe vida... e desde quando uma máquina pode ser dotada de tais características? A máquina não é uma junção de peças programadas para fazer algo e somente? Como pode ela aprender? Mais tarde ela terá também alterações de humor? Se irritará? chorará? Será que a inteligência humana já não está em patamar de risco tecnológico?

Não estou perguntando isso porquê acho que a guerra entre homem e máquina vai ocorrer em breve... Muito embora isso até seja bem possível. Alías, ás vezes penso que ela já ocorre, uma vez que o homem vem perdendo o seu lugar para a máquina. Na verdade o que me entristece e, ao mesmo tempo, me assusta é a tamanha responsabilidade e confiança que o homem retira do seu próximo e deposita em máquinas. Imagine que na atualidade as pessoas passam mais tempo em companhia de máquinas do que de pessoas, elas viraram melhores amigas.

Exagero? Nadinha! Crianças, adolescentes e adultos dedicam horas de seus tempos com ipod, notes e nets books, celulares, computadores, televisão, MP3 e outros aparelhinhos que oferecem diversão solitária. Até as compras, caractéristica consumista de nossa Era, está se reconfigurando para um passeio a sós pela Web, onde está tudo à mão, digo, a um clik.

Em contrapartida as conversas em família estão cada vez mais curtas, a onda do momento é estar sempre "on" ou "plugado" na rede. Os amigos já não conversam, trocam "torpedos" ou "scraps", ou ainda "twitam". Está tudo muito à mão, mas estamos cada vez mais distantes uns dos outros, inseridos em um mundo cada vez mais artificial, cada vez mais robótico e mais programado. E onde fica a naturalidade? Será que nossas emoções também acabarão por ser reprogramadas? Será que a frieza do metal será capaz de suprir a necessidade de calor que mora na alma humana?

As vezes me pergunto se as necessidades que nos acompanharam desde que o mundo é mundo serão substituídas por soluções artificiais, tipo resolver a briga de casal na hora de escolher quem lava a louça. Tudo bem, um robô para lavar a louça não é nada mau, até cai muito bem. Assim também como não é nada mau poder me comunicar com quem está muito longe, assitir a cenas que aconteceram bem longe, transferir uma grana no banco sem sair de casa... tudo isso é bem bom! Mas, ao mesmo tempo, tenho medo, um medo que a máquina jamais terá, pelo menos assim espero. Tenho medo de que quando eu tiver necessidade de um abraço, ou de um consolo diante de uma decepção, olhos de vidro e mãos de ferro tentem me dizer que vai ficar tudo muito bem! Tenho medo de que um dia, alguém anuncie em algum site que conseguiram colocar uma alma artificial em um robô... tenho medo de dormir e acordar em uma sociedade artificial...

Por Mari Gonçalves