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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A tristeza de um pensador

Seu Aguinelo faz da solidão uma inspiração artística (Foto: Marilene Gonçalves)

Por Gilvanéia de Souza e Marilene Gonçalves
Figura intrigante de Capoeiruçu, viúvo, 77 anos, aposentado, pai de 27 filhos e dono de um humor peculiar. Este é Aguinelo Bispo de Oliveira, criador de um curioso jardim, que chama a atenção de moradores e turistas, em Capoeiruçu, distrito de Cachoeira.

Seu Aguinelo, apesar da numerosa família, mora sozinho e ocupa seu tempo na manutenção de seu singular jardim. Quem passa por Capoeiruçu se depara com uma casa incomum: além de CD´S, relógios e quadros fixados nas paredes e nas árvores, o ambiente chama a atenção pelo grande número de placas com ditados populares e charadas pregadas na frente da casa.

O idealizador do inusitado jardim tem uma história curiosa. Ele conta que já fez de tudo um pouco. Morou fora do país, ocasião em que trabalhou em Angola. De volta ao Brasil, seu Aguinelo casou-se com Maria Lina Santos de Oliveira e teve com ela 27 filhos. Desejando que seus filhos se espelhassem em personalidades, todos eles foram registrados com nomes de pessoas ilustres, como Castro Alves, Rui Barbosa, Mozart, Juscelino Kubitschek, Gotchall, João Kennedy, entre outros.

Solidão
Quando a esposa faleceu e os filhos se foram, ele passou a colecionar objetos antigos e produzir placas com dizeres e adivinhações, que são fixadas no jardim da casa e renovadas sempre que vão envelhecendo. Emocionado, seu Aguinelo explicou que essa foi a forma encontrada para ocupar o vazio deixado pela ausência da família.

Sobre a ideia de fazer as placas, ele revela: “surgiu da tristeza. Moro aqui sozinho, tive 27 filhos, 14 estão vivos e nenhum vem na minha casa. Que alegria eu posso ter? Quando eu vivia com minha mulher e meus filhos eu não fazia nada disso, mas agora é minha ocupação”.

Além de confeccionar as placas com as adivinhações, seu Aguinelo oferece dinheiro para quem acertá-las. Ele se orgulha do sucesso de seu jardim e afirma que seu trabalho é reconhecido por pessoas de diversos países, pois muitos turistas passam por ali e fotografam a frente de sua casa: “você acredita que isto aí está no Japão? Japão, Suíça, Alemanha… Eu não entendo o que os estrangeiros falam. Os turistas vêm aqui, tiram fotos, mas não acertam as charadas e eu não digo a resposta.”

Com voz triste, ele se queixa que, enquanto os estudantes das Faculdades Adventista da Bahia (IAENE) visitam e elogiam com freqüência o seu jardim, seus filhos e netos não se interessam por sua criação. Seu Aguinelo já ganhou diversos prêmios e até uma quantia em dinheiro, por conta de seu jardim. As premiações fazem parte do projeto Capoeiruçu Mais Bonito, que avalia a criatividade da decoração dos jardins do local. O projeto foi desenvolvido pelo IAENE, como o objetivo de incentivar a limpeza e organização das ruas.

Orgulhoso pela repercussão do seu criativo trabalho, ele conta que Capoeiruçu é sua terra e que jamais irá deixá-la. Questionado se tem algum sonho que ainda não realizou, ele responde, com simplicidade: “Tenho dois. Quero fazer todos os exames, para saber se tem algum problema de saúde e desejo colocar uma dentadura, para ficar com um sorriso bonito, né?”

Um comentário:

  1. Interessante a história do sr Aguinelo e a sua atual ocupação, viuvo sozinho, pai de 26 filhos que não o visitam. Uma tristeza para ele.

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