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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

revoltada

Estou revoltada
com o sistema doido
com a pressa alheia
com a crise infinda
com meus cabelos curtos
e esta vida tão corrida!
Acaba-se o sono
as crianças continuam na rua
ninguém repara mais na lua
e eu estou revoltada!
Eu nao quero nada, só um recomeço
acho que mereço
andar em outra estrada!

Impasses

Quando eu me prometi te esquecer, eu não brincava
Apenas treinava, gostar mais de mim
E me sentir bem comigo mesma
viver a minha paz...
Precisava de um motivo pra não mais te querer
e sem querer descobrir que esquecia de mim
toda vez que lembrava voce!
Desta forma, estou sem forma
Não pretendo fazer novas promessas
que talvez, eu sei, nem cumpra!
Mas pretendo amar-me, silenciar-me
pretendo apenas ser natural
Ma é uma sina infernal, toda vez que desisto
Voce aparece, fala-me sério ao ouvido
te quero outra vez, irracional...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Amigos são presentes de Deus!


Amigos a gente não escolhe, a gente encontra
é como nuvens espalhadas pelo céu

Tem sempre uma com formato desigual

É como flores no imenso campo da vida

Há sempre alguma que nos é especial

Assim é ter amigos, um aroma diferente

Que perfuma a vida da gente

Que faz do dia um momento legal

Se eu não os tevisse, Oh! que triste pesar

Uma vida sem dividir sonhos

Sem encontrar sorrisos

Seria uma vida sem amar!

Mari Gonçalves






















quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Estradas de Minas

As montanhas deslizam na estrada
Ou sou eu que deslizo por elas?
São pessoas, paisagens e lugares
São estradas que me levam pensativa
Terra, terra, terra...
Preenchimento total deste imenso vazio
A presença humana escasseando no caminho
E uma inquieta necessidade de escrever
A terra se desnivela em ondulantes montanhas
E seus contornos me despertam emoção
Vai fazendo estremecer meu coração
Nestas estradas de Minas...
Foto e texto: Marilene Gonçalves
** Poesia criado à caminho de Minas Gerais

Reflexões de fim de ano



De repente, no meio de tudo parei!
Enquanto falavam de missão e testemunho
E lembrei-me de ti ou de mim...
Lembrei-me que nos lugares onde andei
Muitas vezes esqueci de convidar-te
Mas ainda assim me acompanhastes!
Percebi que tu estavas presente
Eu que me ausentava
E quantas vezes me olhastes nos olhos, sorrias!
Mas eu não compreendia!
Ah! Que pena, Senhor! Eu quase te esqueci
Nos meus afazeres diários, tantos compromissos a cumprir!
Pensei estar afastada, pensei trilhar outra estrada
Pensei até que me perdi...
E hoje, sentada no meio do povo
Sorria pra vida de novo, Tu nãos esquecestes de mim!


Mari Gonçalves

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A tristeza de um pensador

Seu Aguinelo faz da solidão uma inspiração artística (Foto: Marilene Gonçalves)

Por Gilvanéia de Souza e Marilene Gonçalves
Figura intrigante de Capoeiruçu, viúvo, 77 anos, aposentado, pai de 27 filhos e dono de um humor peculiar. Este é Aguinelo Bispo de Oliveira, criador de um curioso jardim, que chama a atenção de moradores e turistas, em Capoeiruçu, distrito de Cachoeira.

Seu Aguinelo, apesar da numerosa família, mora sozinho e ocupa seu tempo na manutenção de seu singular jardim. Quem passa por Capoeiruçu se depara com uma casa incomum: além de CD´S, relógios e quadros fixados nas paredes e nas árvores, o ambiente chama a atenção pelo grande número de placas com ditados populares e charadas pregadas na frente da casa.

O idealizador do inusitado jardim tem uma história curiosa. Ele conta que já fez de tudo um pouco. Morou fora do país, ocasião em que trabalhou em Angola. De volta ao Brasil, seu Aguinelo casou-se com Maria Lina Santos de Oliveira e teve com ela 27 filhos. Desejando que seus filhos se espelhassem em personalidades, todos eles foram registrados com nomes de pessoas ilustres, como Castro Alves, Rui Barbosa, Mozart, Juscelino Kubitschek, Gotchall, João Kennedy, entre outros.

Solidão
Quando a esposa faleceu e os filhos se foram, ele passou a colecionar objetos antigos e produzir placas com dizeres e adivinhações, que são fixadas no jardim da casa e renovadas sempre que vão envelhecendo. Emocionado, seu Aguinelo explicou que essa foi a forma encontrada para ocupar o vazio deixado pela ausência da família.

Sobre a ideia de fazer as placas, ele revela: “surgiu da tristeza. Moro aqui sozinho, tive 27 filhos, 14 estão vivos e nenhum vem na minha casa. Que alegria eu posso ter? Quando eu vivia com minha mulher e meus filhos eu não fazia nada disso, mas agora é minha ocupação”.

Além de confeccionar as placas com as adivinhações, seu Aguinelo oferece dinheiro para quem acertá-las. Ele se orgulha do sucesso de seu jardim e afirma que seu trabalho é reconhecido por pessoas de diversos países, pois muitos turistas passam por ali e fotografam a frente de sua casa: “você acredita que isto aí está no Japão? Japão, Suíça, Alemanha… Eu não entendo o que os estrangeiros falam. Os turistas vêm aqui, tiram fotos, mas não acertam as charadas e eu não digo a resposta.”

Com voz triste, ele se queixa que, enquanto os estudantes das Faculdades Adventista da Bahia (IAENE) visitam e elogiam com freqüência o seu jardim, seus filhos e netos não se interessam por sua criação. Seu Aguinelo já ganhou diversos prêmios e até uma quantia em dinheiro, por conta de seu jardim. As premiações fazem parte do projeto Capoeiruçu Mais Bonito, que avalia a criatividade da decoração dos jardins do local. O projeto foi desenvolvido pelo IAENE, como o objetivo de incentivar a limpeza e organização das ruas.

Orgulhoso pela repercussão do seu criativo trabalho, ele conta que Capoeiruçu é sua terra e que jamais irá deixá-la. Questionado se tem algum sonho que ainda não realizou, ele responde, com simplicidade: “Tenho dois. Quero fazer todos os exames, para saber se tem algum problema de saúde e desejo colocar uma dentadura, para ficar com um sorriso bonito, né?”

Solidão

Tão estranho este vazio...
sem ter prazer de me perder
e me encontrar num dia frio
As horas se arrastam sem graça
e aqui dentro corre um rio!

domingo, 22 de novembro de 2009

Capela da Ajuda já deu sinal...





Fotos: Marilene Gonçalves

Estranhos

Tão estranho sentimento
Que não se deicha revelar
Ora dor, ora contentamento
Ás vezes partida quando desejo ficar
É tua estranha presença, é teu fascinante olhar
Saudade que aos poucos invade
Vazio, mesmo ao lado teu
É um beijo de adeus, um abraço de regresso
É protesto, é lágrima, é paixão, exaustão!
É sonhos, é pesadelo, é tua imagem no espelho
É um permanecer sem ficar
É uma falta de jeito, um encaixe perfeito
É frio e calor no olhar!
É mágoa escondida no canto dos olhos
É pele arrepiada de desejo
É calor e fogo nos teus beijos
É paz e tristeza no nosso repousar
É uma confusão de sentimentos
Tantas dúvidas enfim
Todas as vezes que nossos corpos se tocam
Você deixa marcas em mim!

Teus Olhos

Estes olhos teus
Porque fitam os meus?
Tão sinceramente enganadores?
E este toque teu
Vai descobrindo o corpo meu
Tão tentadoras estas tuas mãos!
Ah! Solidão
Que me faz enxergar em tudo a paixão
E vai iludindo o peito meu!
E me envolvendo em sonhos
Que eu jamais poderei sonhar...
Estes olhos teus, Ah! fitam os meus
Tão sinceramente enganadores!
E se nada me restar
Pelo menos há de ficar
Estes olhos teus, tão tentadores...
Mari Gonçalves

E me inspiras!

Tu és minha inspiração!
Difícil dizer isso assim
Sem chocar você!
Difícil te fazer compreender
Que às vezes é puro este meu querer
Noutras, intenso e ardente desejar
Mas se o tenho, é por gostar
Tão intensamente de tí
E me inspiras!
Porque és poesia, que desvela-me inteira
Porque és refúgio, minha saudade primeira
Porque és homem-menino, de olhar ligeiro
E me inspiras!
Porque tens doçura e ardor
Porque és distante, mas tens amor
Porque faz falta até quando não te vais
Porque és amigo
E algo mais...

Reencontro

Fico a pensar...
Quantos mundos haverá além do meu
Quero-o todos, sonhar!
Velejar noutros desejos
Superar estes meus medos, arriscar!
Mas parece-me estranho...
Pois quero conhecer outros mundos
Mas quero voce ainda em minha história.
Quanto tempo levará?
Para que você já não me faça tremer?
Para que teu sorriso já não me encante
e teu toque já não me faça te querer!
É difícil, parece até impossível,
Tão estranho não te ver
Mas tudo vai chegar
E quando eu te encontrar
Não sei o que vai acontecer...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Seus passos lentos denunciavam que o tempo marcara seu corpo, tão tirano este tempo que a ninguém perdoa. Sempre com os mesmos trajes, o mesmo olhar pensativo, a paz de espírito, o mesmo cumprimentar – um leve aceno com as mãos embrutecidas pelo trabalho pesado. Todos os dias ele se dirigia à sua pequena plantação, enxada na mão, corpo curvado pelo tempo e pelo cansaço, roupas surradas, às vezes remendadas com tecidos coloridos, quem as teria remendado? Todos os dias ele passava, seu olhar que não apresentava brilho, mas também não estava de todo ofuscado. Era um olhar vazio, que parecia espelho de um passado remoto, mas ainda agonizante em qualquer canto da memória. Um olhar inexpressivo, mas que ameaçava irromper num brilho qualquer, num pequeno prazer. Será que ele tinha sonhos? Quando se deitava na cama, o que pensava? Talvez dormisse de imediato e seu pensamento ficasse vazio, como uma sala sem paredes, sem presença física, sem vida. E fitava-o entre penalizada e curiosa. Como eu queria adentrar sua mente, saber o que se passava nela. Entender o que sentia um corpo marcado pelo tempo e pelos insucessos que a vida lhe proporcionou. Como eu queria saber o que ele sentia quando lembrava-se dos filhos distantes, da juventude perdida, da esposa falecida, do fim que se aproximava lentamente de seu cansado e velho corpo. E quando, no fim da tarde, retornava cansado do trabalho, eu podia ver o suor que escorria de seu rosto enrugado. Suas mãos trêmulas que se dividia entre enxugar o suor e apoiar uma velha sacola. E ia descendo vagarosamente a ladeira, sua figura cada vez mais distante, transformando-se num pontinho pequeno, até desaparecer por completo na esquina. Tantas vezes ficava na porta, sentada no assoalho só para vê-lo passar, e me contentava com seu aceno, um sorriso desdentado, mas tão sincero. E vigiava o relógio, preocupada em não perder sua partida. Quando o sol se punha, lá vinha ele, lento, pesaroso com fadiga do dia, ai descendo lentamente a ladeira. Sua figura amiudando-se no caminho, cada vez mais longe, cada vez mais lento, amiudando-se, findando-se a sua imagem, até o dia em que findou-se completamente.
Mari Gonçalves

Andarilho eu

Meus caminhos. Tortuosos caminhos, cansados pés.
Algumas vezes se perdem em emboscadas da vida.
Noutras encontram ruas sem saída, ah!
E eu sempre à procura de mim, ou de ti
Nada me fere mais que não poder caminhar
E me deixar ficar em um abrigo qualquer
Sou andarilho, sigo um rumo que não sei qual é
Mas sigo a pé
Porque à pé, eu sinto as flores que nascem na estrada
Eu vejo a criança que me olha entre curiosa e desconfiada
Eu vejo a vida passar por mim e eu por ela, sim!
Às vezes me incomoda esta sina
Pois meus pés me reclamam um constante caminhar
Como se a poesia que se espalha no caminho
Fosse deixando minha essência pelo ar
E morreria se me permitisse ficar
Meus caminhos, tortuosos caminhos
Não sei viver sem caminhar

Foto e texto: Marilene Gonçalves


Em tuas mãos


Dá-me a forma que pensas
Ou me abandonas num canto qualquer
Mas sei que tu me queres, então contorna-me
E tuas mãos alisando minha matéria
Ah! Vai torneando minha forma, sim
Prazer de me fazer surgir em teus dedos
Toca esta sinfonia que é criar-me
Inventa-me ao teu bel-prazer
Eu me deixo escorregar e tu podes me formar
Em tuas mãos tens o poder de me criar
E eu vou cedendo às tuas investidas
Preguiçoso, obedeço tuas mãos experientes
E este teu toque de arte e calor
Tuas mãos em ritmos frenéticos de amor
Faz-me contorcer-me e rodopiar
E no final, cansado eu me rendo, sou vaso novo
Sou tua criação, Ah! Artista, as tuas mãos!


Autora Mari Gonçalves

sábado, 7 de novembro de 2009

Falando sério - Eu, Jornalista

Às vezes me pergunto o que eu, Marilene, estou fazendo em um curso de jornalismo. Quando criança tinhas vários sonhos, ser executiva, atriz, poeta, escritora, pintora e até marinheira. Mas jornalista nunca. Engraçado o destino. Porque sempre gostei de coisas que me dão plena liberdade de criação, que me permita estar em contato com o ser humano. E, de repente, me vejo em uma profissão que exige que eu documente a vida dessas gentes e me confronte com elas diariamente. De toda forma, estou gostando do curso, gosto das disussões, mas sempre me pergunto se é isto que eu realmente quero para minha vida. Entendo que na sociedade capitalista e excludente em que vivemos, onde frequentemente os valores são distorcidos para favorecer pessoas em específico, ser jornalista é um desafio. Talvez até nem seja, para quem não se incomoda em vender seus conceitos por mesquinharias e deixar-se envolver por falácias bem ensaiadas. Mas para mim, que acredito no valor do ser humano, que creio que o amor pelo próximo é mais importante do que status e dinheiro, é desafiador sim. A cada dia entendo a realidade do mundo da comunicação. E ela não é bonita não... É uma realidade marcada por distorções, por mentiras bem contadas, por um discurso muito bonito de contribuir para a sociedade, mas que está fundamentado no controle social, na legitimação de um sistema que deturpa a realidade a desabitua os indivíduos a exercer sua subjetividade. E isto, eu nunca pretendo ser, nem defender. Mas não vou generalizar, tem muito jornalista bom e sério por aí. Me arrisco até a dizer que eles (ou nós), estão em um número considerável, quem sabe até suficiente para fazer uma comunicação diferente. Mas estes, infelismente, não estão no controle, quase sempre estão controlados. Mediante estas constatações, tenho duas opções: Escolher uma área que eu não precise estar subjugada a este controle - se é que isso ainda é possível, ou encarar este desafio e ser sal, fazer a diferença, engrossar a fila das minorias que crêem num jornalismo sério e comprometido com a mensagem no canudinho - que já nem vale muita coisa. São dois caminhos, qual vou escolher, não sei sinceramente. Mas sei que seguirei o caminho certo, até penso que ele já está marcado. E está à espera dos meus pés, e que venha o mundo. Seja o que Deus quiser.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Amor e Medo
Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, Oh! Bela
Contigo dizes, suspirando amores:
"Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
Como te enganas! meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela - eu moço tens amor, eu - medo...
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes...
Casimiro de Abreu

LUA ADVERSA

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso.
E roda a melancolia seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém (tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Cecília Meireles

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçurados que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora.
Vinicius de Moraes
Oh! Cachoeira!
Mãe do meu Brasil.
Teus filhos herdaram a história
De uma guerra travada
sob a proteção de um rio!
Seus traços africanos
quando nem éramos baianos
já nos fazia brasileiros!
E nesta terra abençoada
houve sangue nas calçadas
houve mãe desesperada
teve choro e emboscada
a canhoeira afundada
denunciava em retirada
os heróis da Cachoeira
cosntruíram este Brasil!
O dia estava quente. Eu não sabia distinguir quem estava ao meu redor, só sei que eram amigos. Pessoas com quem eu convivia há muito. Percebi a aproximação sutil e a confusão armada em torno do fogão. Fogo! Fogo! Ou era pura ilusão? Labaredas subiam ardentes, eu tentava salvar meus pertences, mas era fogo! E contra o fogo não há argumentos. Só há água ou fuga. Fugir significa deixar para trás objetos queridos, pessoas queridas, lugares especiais. Fugir significa abrir mão de algo. Abandonar projetos inacabados, partir com a certeza de que o que ficou para trás se converterá em cinzas. Fugir dói demais. Mas fugimos com freqüência. Fugimos de nossos problemas, como se eles não nos esperassem quando retornamos. Fugimos de nosso silêncio, como se refletir fosse assinar um atestado de solidão. A fuga é inerente ao ser humano, pois viver é nada mais do que um constante fugir da morte. Ou a gente foge ou a gente fica e apaga o fogo. Tem gente que prefere ficar e arder nele. E depois recolhe as cinzas que as chamas vão deixando. Escolhi a água e o fogo ia cedendo às minhas investidas arriscadas. De repente ele cessou, recolheu-se com a mesma força que principiou, deixou-se adormecer enquanto eu observava a herança de sua força imensurável. Às vezes o fogo consome de tal forma nossa vida, que o renascimento é desnecessário, pra não dizer ineficaz. Aos poucos as pessoas retornaram, contabilizando assustadas a fúria do fogo que se alastrou em nossas vidas. Eu fitei o vazio do jardim, pois aquelas pessoas me eram estranhas e dançávamos num corredor, ritmados por uma música imaginária. O perigo se aproximava no céu, eram flechas em números incontáveis, avançavam ligeiras, sedentas de atingir a Terra e arrancar o sopro da vida em qualquer um que o possuísse. Que seria de nós, pobres mortais? A música continuava, ou eu a imaginava? O passo estava engraçado, apesar de desajeitado, ele sorria pra mim, éramos amigos naquele momento, eu não via o perigo, mas o pressentia no ar. Estavam quase atingindo a Terra, mas centenas e milhares de anjos voavam ao encontro delas, morriam, acinzentavam-se e se dissipavam no ar, mas impediam o perigo de chegar ate a nós, inocentes mortais que dançam a valsa da vida, mesmo quando o passo é errante e indeciso. No céu a batalha estava travada, os anjos iam desaparecendo, uma a um, mas protegiam a vida entregando a deles. Ah! Batalhas insanas estas que travavam nos céu. Entregavam suas vidas por amor de desconhecidos seres e sabiam que não valeria apena, pois a vida não passa de uma eterna batalha onde não há vencedores, apenas o destino do confronto. Somos assim, anjos que lutam contra um mal que nem se quer existe. Mas lutar é condição para ganhar os céus, para fazer da vida uma inglória busca de algo que nem se sabe o que é. Alguns lutam contra si próprios, como se o inimigo fosse a própria consciência que lhe acusa os erros. E passam a vida inteira entorpecendo suas mentes de alucinógenos que permitem a fuga da realidade. Outros ocupam seus dias com afazeres mil, mascaram seus corpos com objetos e corretivos que lhe impõem uma marca que permite a representação de papéis diversos, e a verdadeira essência vão se atrofiando, sem espaço para existir nestes corpos transformados. Há aqueles que apenas se deixam ficar, pois fugir ou lutar representa a mesma perda de tempo. Então se entregam aos momentos prazerosos e desfrutam da leveza da vida, como se esta não fosse ter o mesmo destino de todas as outras, que ninguém sabe qual é. A música parou, meu jardim estava repleto de estranhos, eu estava sendo convocada para lutar. E cadê minhas vestes? Que roupa de heroína é esta que nunca vi no meu guarda-roupa? Esta roupa revela quem sou, meu corpo verdadeiro que comumente escondo com os disfarces da vaidade! Mas expuseram diante de todos e sou outra pessoa, não sei se má, não sei se boa. Eles são muitos e eu tenho que segui-los. É preciso vencer o perigo das flechas lá no céu, é preciso desviar seus caminhos, ah é preciso não deixá-los sozinhos, sozinhos eles não podem lutar. Eu não me conheço, não me sabia uma heroína, o que eu faço? Que poder tenho eu? Não sei qual minha força, não entendo onde está o inimigo, o céu já não apresenta perigo, morreram os anjos, me denunciaram aos meus amigos, neste momento eu acordei. Ah, estes sonhos loucos que eu tenho! Bobagem, fui tomar um banho frio.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

terça-feira, 29 de setembro de 2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Lamentação

Ai de mim!
Nesta falta tua
Neste meu desesperado amor
Que retira minhas chances de lutar
Que me deixar presa no ficar
Quando tudo que eu desejo é partir
Ai de mim!
Quando a noite repousante cai
E fico a me arder em ais, inconsolada
Com esta falta inexplicável de paz
Ai!
O ar se colore de aromas
É tua presença anunciada
Outra vez minha risada
Outra vez o calor dos braços teus
E tristes, os olhos meus
Já se preparam para o adeus
Ai de mim, meu Deus!

Toda a essência Mulher

Ser mulher é pra poucas...
Dom inexplicável
Feminilidade incontida
Entre o doce arfar dos lábios quentes...
Sê-la sem máscaras, sem farsas, sem prodígios
Sê-la com se é rosa, doce, simples e eternamente bela
Que sua sensualidade seja pura, ingênua e irresistível
Que tenha um olhar distante, marcante e profundo
Que os olhos encantem
Os cabelos balancem e no ar fique o perfume
Que no intimo seja menina
Doce e suave
Como a primavera em flor
E me amas

Vem
Porque minha alma clama por ti
E meus passos estão sob as sombras dos teus
Na minha angustia me perdi de ti
E desconfiei que não me tinhas amor
E meu olhar via sem enxergar
No teu templo eu não te encontrei
Inglória busca, desisti de te procurar
Que adiantava se minha fé era vazia?
E dobrava os joelhos, mas não o coração?
Inglória arte de fingir devoção
Fui embora então
Mas te encontrei nos olhos do meu irmão
Na criança carente e pedir atenção
Nas flores do campo, no céu cinzento do entardecer
Tu sempre estás em tudo
Em todos os caminhos que sigo
Em todos os passos que dou
E se isto não é amor,
Que mais pode ser, Senhor?
Abandono

Eu sofro ao ver meu irmão neste chão
Porque sei que ele não vai se levantar
Escuto sua voz clamando por respeito
Escuto outros a rir de seu pesar
Suas lágrimas se confundem com as minhas
É uma dor que já não posso suportar:
ele lutando contra sua miserável condição
e eu sofrendo por não poder lha dar a mão...
Chora meu irmão
E sua dor vai invadindo o peito meu
É este meu semelhante que está jogado ao chão
É esta a sorte deste abandonado irmão
E eu aqui sem poder lhe dar a mão
E estes rostos acompanham o que sou
Vai arrancando a certezas que eu tinha
E me percebo tão solidária em sua dor
Mas a mim eu sei que não me falta amor
Já meu irmão só entende coisas de dor
Foi a miséria que ele sempre conheceu
E se eu apenas observo os passos seus
O que será do meu irmão, meu Deus?

quinta-feira, 24 de setembro de 2009


Nos jardins da babilônia, os papiros eram mais que bonitas plantas, este vegetal era utilizado na fabricação de papel e de adereços para as mulheres. Elegantes e altivos, os papiros são plantas sem flores, mas dotados de pecualir beleza.
Entardecer em Cachoeira
Este sol
que clareia a manhã destas calçadas
e que no fim da tarde doura as águas
se esconde atrás da velha ponte
e, despedindo-se sorrateiro
retira do céu seu brilho faceiro
no entardecer de Cachoeira...
Neguinhas
Elas não brigam, não disputam
apenas escutam, observam os passantes
e sentindo seus destinos semelhantes
enfileiram-se fogosas
de ancas salientes e pele oleosa
a seduzir seus interessados observadores
eles não lhes caem de amores
mas sente na textura de seus contornos
o amor do artista que as criou...
Show animado

Eles tocam para os passantes,
ou para si mesmos?
Não se sabe qual é o ritmo
nem quem os contratou
mas eles permancem entusiasmados
tocando e cantando
faz parte do Show.
Na feira do Porto de Cachoeira
tem até sapo cantor
Feira do Porto de Cachoeira é uma mistura de arte e calor humano que enriquece a orla de Cachoeira e cria um ambiente agradável e inusitado. São artistas de todo o Recôncavo que vêm de suas cidades mostrar seus trabalhos e formar a feira criativa que todos os anos atrai turistas de toda a Bahia. Isto é Cachoeira, terra de alegria, de tranquilidade e felicidade, isto é Bahia!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Aos poucos
Transformei-me em muitos outros
E minha essência escorrendo pelos cantos
Entrelaçando outras histórias
Misturada a outros amores
Compartilhando outras dores, outros pesares
Minha vida, um arranjo indefinido
Que agora vai ganhando outros sentidos
Tantas vozes aqui dentro formam um hino
Sou eu ou são estes outros
Que aos poucos me dominam?
O que sei de suas vidas, de suas partidas?
O que sei de seus temores, seus desejos?
O que sei dos seus caminhos, dos espinhos, das vitórias?
Sei o que me revelam e
se me revelam é porque esperam
E em mim anseiam por novos caminhos
Quem sou, para arrancar-lhes seus tormentos?
Sou, ou simplesmente estou, jornalista
Minha história vai se misturando a deles
E vou-me completando em suas vidas
Mas não as tenho em minhas mãos
Estou sempre a participar de suas lidas
Mas minha certeza é a partida
Pois ao jornalista, outras histórias sempre virão.

sábado, 19 de setembro de 2009

Inspiração

É assim...
mesmo que eu não queira, ela vem
se esgueira pelos cantos, se instala
Desarma minha guarda
denuncia quem sou
Não falo aqui de amor, nem mesmo de dor
Falo de algo que está tão junto a mim
pregado ao peito meu
e que não existo separada dela
Falo de primaveras, de cores e sabores
falo da menina na janela
a espera de amores
falo de pranto, de angústia, de querer-bem
falo de saudades, loucuras e sonhos de alguém
Falo de POESIA, só ela reina em mim
e por ela vivo assim
a escrever e dizer coisas de sonhos
como uma história que nunca terá fim...
Marilene Gonçalves